quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A Carta do Rei do Congo



CC-I-35-21 - IANTT
1526.10.28

Carta do rei do Congo dando parte a D. João III que muitos mercadores deste reino passavam a seus estados para cativar muitos dos seus vassalos a quem faziam escravos para os tornarem a vender, sendo estes uns seus parentes e outros fidalgos, pedindo ao mesmo senhor acudisse a este excesso e lhe mandasse médicos, boticários e cirurgiões pela grande necessidade que tinha deles.

A vos tem escrito por nos fazer merçe que todo o de que tivemos merçe verdade lho enviamos pedir por vossas cartas e que em tudo seremos provido e porque a paz e saúde de nossos reinos depois de Deus esta em nossa vida e pela antiguidade e dias muitos que em nos há nos ocorrem de continuo muitas e diversas enfermidades que mui as vezes nos põem em tanta fraqueza que nos chegam ao derradeiro extremo. E pelo com … a vossos filhos parentes e naturais o que avisa nesta terra não haver físicos nem cirurgião que as tais enfermidades saibam dos verdadeiros remédios nem boticas nem mezinhas com que o melhor possam fazer. E a isto de sempre perecem e morrem muitos dos já confirmados escravos nas coisas da santa fe de nosso senhor Jesus Cristo e a outra gente pela maior parte se curam com ervas e paus e outras maneiras de sua antiguidade as quais servirem nas ditas ervas e cerimonias põe toda sua crença e se morrem crem que vão salvos o que e pouco serviço.

E por evitar tão grande erro e inconveniente pois que depois de deus desses reinos e de vossa alteza nos e vindo todo o bem e as mezinhas e remédios para a salvação por merçe pedimos a vossa alteza nos faça merçe de dois físicos e dois boticários e um cirurgião para com suas boticas e coisas necessárias virem estar em nossos reinos porque temos deles e cada um deles mui extrema necessidade aos quais faremos tanto bem e merçe por serem por vossa alteza enviados que haja por bem seu trabalho e vinda. Pedimos a vossa alteza muito por merçe nos queira disso prover porque alem de seu particular bem e muito serviço de deus pelo que dito temos.

Outro sim senhor em nossos reinos há outro grande inconveniente e de pouco serviço de deus o qual e que muitos nossos naturais pelo desejo muito que tendes mercadorias e coisas desses reinos que os vossos a estas … e a esta coisa e por satisfazerem seu desordenado apetite furtam muitos dos nossos naturais forros e isentos e muitas vezes acontece furtarem fidalgos filhos de fidalgos e parentes nossos e os levam a vender aos homens brancos que em nossos reinos estão e lhos trazem escondidos e outros de noite por não serem conhecidos. E tanto que são em poder dos ditos homens brancos são logo ferrados e marcados com fogo e ao tempo que os levam para embarcar são lhe por nossas guardas achados e alegam que os compraram e não sabem dizer a quem pelo qual nos convem fazer justiça e restituir os livres a sua liberdade o que se não pode fazer se vossos naturais ficarem agravados e assim o vão andando.

E por evitarmos tão grande mal posemos por lei que todo homem branco que em nossos reinos estiver e come… peças por qualquer maneira que seja que primeiro o faça saber a três fidalgos e oficiais de vossa corte em quem este caso confiamos a saber a dom Pedro Manipuzo e a dom Manuel Manisaba nosso meirinho mor e a Gonçalo Pires nosso armador mor para verem as ditas peças se são cativos se são forras e sendo por eles despachadas ao diante não terão nenhuma duvida nem embargo e as poderão levar e embarcar e fazendo o contrario perderão as ditas peças. O qual favor e largueza lhe damos pela parte que a vossa alteza disso cabe e por sabermos que tanto seu serviço e as peças que de nosso reino tiram porque de outra maneira o não consentíamos pelos respeitos sobreditos o que todo fazemos saber a vossa alteza porque não vão la dizer o contrario como dizem outras muitas coisas a vossa alteza porque o desviem do cuidado e lembrança que de nos e de deste reino deve ter por serviço de deus e do que deste caso lhe parece receberíamos muita merçe no-lo enviar dizer por sua carta. Beijamos senhor muitas vezes as mãos de vossa alteza desta nossa cidade de Congo escrita aos 18 dias de Outubro dom João Teixeira a fez de 527 anos.
(Assinado:) EL REI + DOM AFONSO

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